terça-feira, 23 de junho de 2009

Um Manto de Espelhos

Um boneco espelhado valsa no salão a mais triste valsa da meia noite
Resplandece em suas vestes as faces curiosas e cruelmente interrogativas
-veja aquele paço! Olhe tal trejeito! Afinal não se respeita mais casa de família?

A tudo e a todos ignora
Veste seda por baixo do cortante espelho
Aquele sangue não é seu
As lágrimas que ele verte sob tão melancólico som nada condizem com uma dor pessoal

Aglomeram-se zumbis a sua volta, criticando sua posição
Criticam as faces disformes que adornam seu manto espelhado
- que mau gosto! Pobre coitado! Como possui coragem de sair tão mal ornamentado?

Eis então que para catarse geral, o boneco faz uma revelação
-As figuras dantescas que vêem refletidas em mim são o reflexo de vosso torpe coração!
O que vos incomoda? Meu traje deselegante, ou o fato dele revelar quem sois vós?
Despido do espelho nada me pesa, minha vestimenta é de pura seda, tecida pelos anjos. Possuo e assumo a liberdade que renegas.
Quebrem os espelhos, se conhecer o imo de vossas almas lhes ferir em demasia
Não atingirão a mim, que liberto do peso voarei em primazia!-

E qual não foi o espanto dos mesquinhos de sonhos amordaçados ao ver
Ver o ser de luz envolto em tecido divino que acabava de nascer
Sua feiúra e trejeitos eram reflexos do espelho, cujos torpes se observavam
E finalmente estes entenderam que não era por pena de si
Era por pena de todos os mascarados que tal alma cativa chorava e sangrava.

Neste show de horrores ele sabe e aguarda
Chegará o dia em que seu coração de seda e seu rosto angelical serão vistos
Ele não precisará mais de armas ou máscaras.

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