quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Algumas Palavras

A maioria das pessoas quer se encontrar. Eu não entendo o porquê, mas posso dizer aos que buscam a redenção no descobrimento de si próprios que quanto me achei realmente me perdi da forma mais intensa e dolorosa. É difícil dar um passo a frente quando tudo lhe impele na direção oposta, é difícil tomar decisões quando sabemos o quanto elas afetariam o mundo à nossa volta. Tão difícil, que, às vezes, deixamos de lado uma parte de nós que grita desesperadamente, que não nos deixa dormir, que nos diz algo que parece obvio! Ignoramos esta parte por medo de magoar os outros, e nisso, acabamos magoando a nós mesmos.
Se encontrar é saber quem se é, e o que se quer. Por isso é tão doloroso. Às vezes o que queremos não condiz com nossos valores, com nossos princípios. Às vezes não somos a pessoa que pensamos ser.
Não escrevo há um tempo pois me falta inspiração, me falta coragem, me falta a transparência que eu acreditava ter. Não estou infeliz, apenas inconformada com a realidade nua e crua que se desenha à minha frente e que, por mais que eu lute, não cabe a eu mudar sozinha.

domingo, 16 de agosto de 2009

Palavras sem estética

Se eu soubesse que você ouviria, ou que alguém me levaria a sério, eu contaria toda a verdade. Contaria esta verdade incômoda que todos sabem, mas fingem não ver, embora ela esteja estampada em cada ato cotidiano, a cada minuto.
Podem se questionar o porquê da ânsia de dizer algo que todos sabem, mas a resposta é simples: às vezes precisamos que alguém nos diga o que sabemos e fingimos não ver. Fazemos isso talvez para atenuar nossa culpa, ou talvez porque as coisas só façam sentido quando são gritadas a plenos pulmões. Eu gritaria se soubesse que provocaria alguma mudança, se eu soubesse que isso me faria dormir melhor à noite ou se soubesse que no mínimo alguém me ouviria e me ajudaria a mudar algo. Mas ninguém estaria disposto a sair de sua zona de conforto. Eu sei por que já tentei, tentei e vi uma multidão fechar seus olhos e tapar seus ouvidos. Me pergunto como essas pessoas dormem a noite, e sorriem sorrisos de suposta felicidade durante o dia.
É por essas e por outras que às vezes eu preferiria não ser eu mesma, gostaria de não me importar ou então de me importar de vez, seguir um dos extremos declarados. Mas até os extremos me parecem absurdos, imponderáveis. O meio termo também não me consola. Eu quero tudo, mas com sobriedade, com equilíbrio e lucidez. Faço minha parte, mas não é suficiente. Nada é, até que quem tem que ouvir ouça. Ouça e compreenda e haja e mude e provoque mudanças. Até lá, eu sufoco e tento me conformar em ser mais uma anônima na multidão, alguém que clama, muitas vezes em silêncio, por uma utopia tão real que chega a ser palpável, mas que se desfaz quando quem deveria ouvir se faz de surdo. Um dia eu, e outros iguais a mim seremos ouvidos, apenas espero que quando este dia chegar (e chegará!) eu mesma já não tenha parado de me importar.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Fim da infância

O que eu não daria para voltar à infância um dia?
Sentir de novo aquela sensação de paz
Fechar os olhos, ver os pássaros ouvir sua melodia

Hoje abro os olhos e só vejo meus fantasmas no armário
Vejo meus monstros embaixo da cama
Sinto falta dos meus super heróis
Sinto falta do meu mundo, aquele onde tudo era possível
E não esse onde tudo é previsível

Falta-me também aquela alegria q eu tinha
Tão feliz antes,
Antes dos rostos se tornarem invisíveis, nomes dispensáveis, pessoas descartáveis
Antes dos falsos amigos, das falsas lições, que eu nunca devia ter aprendido
Pq Deus, não me permite voltar um pouco antes? Enquanto eu ainda entendia
Enquanto ainda me entendia
Enquanto não me perdia

Doces segundos com gosto de eternidade
Onde a única lenda verdadeira era sobre os monstros
Hoje vivo uma situação paradoxal
A lenda verdadeira é encontrar boas pessoas no mundo real
Sonho utópico de uma mente sem sentido

Antes de a luz virar sombras, antes da troca virar suborno
Antes da competição desleal, antes do fim da verdade
Antes das mentiras planejadas, antes dos sorrisos que enganam
Antes de uma sonhadora se transformar em uma covarde escondida sob as cobertas

Se eu pudesse voltar talvez fizesse diferente
Não ajudaria ninguém
Não fecharia os olhos
Não sorriria tanto
Não sonharia
Sonhos são para fracos, fracos como eu, que acabam como eu
Não acabaria assim

Se alguém me perguntar algo porem, digo oq muitos não dizem
Eu já pulei de precipícios, já dancei tangos com a morte
Já morri, e continuei viva
Já vivi (e vivo) mesmo estando morta
Já viajei em foguetes, viagens q duravam apenas uma noite
Posso te contar coisas q sua mente nem imagina
Posso ainda me surpreender com coisas banais
Posso me adaptar a tudo
Só não posso esquecer
Esquecer que o preço de tudo foi caro demais
Dividido em três prestações iguais
Meus sonhos, minha esperança e por ultimo minha alma

Sei que não posso voltar, me resta evitar olhar para trás
Já estou de mente e olhos bem abertos, e de coração bem fechado
Já prometi a mim promessas q não irei de forma alguma descumprir, não mais
Aprendi aos poucos a andar sobre o fogo e não me queimar
A sofrer e não chorar
A lidar com tudo sozinha, por não ter com quem contar
Me falta aprender a me acostumar com o simples fato de ter me tornado um monstro
Apenas mais um daqueles monstros, andando na multidão.

Bibelô

Daqui de dentro vejo o mundo lá fora
Meu deus é o fim e agora?
Estou presa dentro do vidro da sua estante

Olho para mim e me vejo vestida em seda, num vestido com babados
Cabelo arrumado
Rosto maquiado

Presa, sem ação, nem vontade
Assim me sinto ao seu lado
Mais um bibelô na sua estante
Mais um objeto empoeirado q o tempo te fez guardar e esquecer

Me tratou sempre como uma boneca
Esqueceu apenas d um detalhe, algo q você sempre ignorou
E que nunca se lembrou,
Você não pode me guardar na sua estante
Não sou só uma relíquia apesar da apatia e das roupas medidas
Meu coração ainda bate, ainda estou viva

Inominável Paradoxo

As vezes me pergunto como tudo que possui um sentido pode ser esvaziado do mesmo com pequenos detalhes quase que imperceptíveis. É fantástico, e muito triste a forma como traímos nossas próprias promessas, assim como a forma como lidamos com nossas decepções pessoais. Maior que nossas decepções pessoais, são nossas decepções com o universo, cosmo, harmonia celestial, ou, para os mais íntimos: Deus.
Durante nossa vida vivemos alguns momentos ou períodos ( contáveis nos dedos) que realmente tem um significado de marco em nossa história. Não sabemos quando esses períodos acontecerão, mas sabemos quando acontecem. Tal filosofia, muito barata, meio de bar, encerra em si quase que a totalidade dos mistérios da vida. Mas minha duvida não é, nem nunca foi, como descobrir esses períodos, mas sim como na minha vida, em particular eles tem o poder de se repetir pelo mesmo motivo. Talvez seja apenas um ciclo que se reflete e se refrata durante seu curso, sendo seu espelho o seu passado e seu futuro. Talvez seja coincidência, e, talvez não seja nada.
O mais irritante, confesso, é a esperança. A esperança é uma intrusa safada que aparece sem ser convidada, quando não a queremos mais, e vai embora no momento que mais precisamos. A esperança é o mais forte entorpecente presente na história humana, uma droga potente que leva à construção de impérios e ao suicídio. A esperança essa companheira de copo ingrata... se não fosse por ela eu já teria desistido de tudo, e se não fosse pela falta dela, eu teria continuado. Inominável e confuso paradoxo.

Um Manto de Espelhos

Um boneco espelhado valsa no salão a mais triste valsa da meia noite
Resplandece em suas vestes as faces curiosas e cruelmente interrogativas
-veja aquele paço! Olhe tal trejeito! Afinal não se respeita mais casa de família?

A tudo e a todos ignora
Veste seda por baixo do cortante espelho
Aquele sangue não é seu
As lágrimas que ele verte sob tão melancólico som nada condizem com uma dor pessoal

Aglomeram-se zumbis a sua volta, criticando sua posição
Criticam as faces disformes que adornam seu manto espelhado
- que mau gosto! Pobre coitado! Como possui coragem de sair tão mal ornamentado?

Eis então que para catarse geral, o boneco faz uma revelação
-As figuras dantescas que vêem refletidas em mim são o reflexo de vosso torpe coração!
O que vos incomoda? Meu traje deselegante, ou o fato dele revelar quem sois vós?
Despido do espelho nada me pesa, minha vestimenta é de pura seda, tecida pelos anjos. Possuo e assumo a liberdade que renegas.
Quebrem os espelhos, se conhecer o imo de vossas almas lhes ferir em demasia
Não atingirão a mim, que liberto do peso voarei em primazia!-

E qual não foi o espanto dos mesquinhos de sonhos amordaçados ao ver
Ver o ser de luz envolto em tecido divino que acabava de nascer
Sua feiúra e trejeitos eram reflexos do espelho, cujos torpes se observavam
E finalmente estes entenderam que não era por pena de si
Era por pena de todos os mascarados que tal alma cativa chorava e sangrava.

Neste show de horrores ele sabe e aguarda
Chegará o dia em que seu coração de seda e seu rosto angelical serão vistos
Ele não precisará mais de armas ou máscaras.